A juventude do território português tem vindo a sofrer uma onda de sucessivos ataques que precarizam seu presente e futuro, e precisa de uma resposta firme de sua parte para inverter a sua situação. Para tal não basta reconhecer estes ataques mas também organizar a ofensiva, a nível reivindicativo, económico e social, mas também na sua auto-organização política, duas lutas bastante diferentes e urgentes, mas qual a pró-atividade e rebeldia típicas da juventude e estudantes colocam numa situação propícia para um bom desfecho.
Qual a situação em que nos encontramos nós? Não obstante o aumento de custo de vida a partir do início da guerra na Europa, a verdade é que desde 2020 experiência-se uma nova fase, com a privação, o confinamento, o teletrabalho, o tele-estudo, a hipermediatização do sofrimento, a precariedade laboral, o agravamento da especulação imobiliária e o sucateamento crescente da educação em par com o crescimento do seu sector privado. Tudo isto afetou e afeta toda a juventude estudante e trabalhadora principalmente pois cada vez surgem menos oportunidades no território português para quem ainda se está a estabelecer e não é herdeiro de capitais. Além disso, viveu-se uma crise sanitária agravada pela falha de assistência de Saúde por parte do Estado, e uma crise securitária, com o maior controlo de fronteiras e militarização da saúde com reflexos até hoje, com a polícia e militares a tomarem a dianteira da resposta ao Covid-19, novamente marginalizando em particular a juventude negra, migrante e precária que se viu empregada clandestinamente durante lockouts, ameaçada ao sair de casa para o emprego, ou com mais dificuldade em cruzar fronteiras para viver e trabalhar. Além disso, esta situação tornou mais difícil para jovens saírem de casa dos pais ou de relações românticas, levando a um aumento de situações de abuso e violência doméstica em geral e principalmente entre a juventude lgbtqia+ e feminina. Como dizíamos, a crise económica do capitalismo tem agora se agravado com a eclosão da guerra interimperialista com foco na Ucrânia, e isso é claro para quem não têm o privilégio de viver uma vida abastada, pelo que pouparemos palavras - a totalidade do povo, aqueles que não vivem à custa da exploração e especulação sabem do que falamos. Esta guerra surge no contexto de um conflito de interesses geopolíticos, já que os Estados, enquanto centros de poder das elites, tendem a escolher dominar para não ser dominados, desmascarando assim os interesses nefastos que seguem e a incapacidade do mercado capitalista em suprir para todas as contradições criadas por suas elites políticas e económicas. A ameaça do alastramento da guerra, além do terror de estado em sua forma física produz efeitos psicológicos em toda a Europa que se somam aos da pandemia, e introduziu uma nova fase à crise de refugiados, na qual a juventude internacional é novamente a mais castigada. Por um lado é concreta a necessidade de organizar o apoio aos refugiados deste conflito, bastantes jovens que fogem ao serviço militar obrigatório dos dois países, mas não deixamos de achar hipócrita a justificação que permite uns cruzarem fronteiras e a outros, normalmente dos países do Sul Global, migrantes ou jovens e estudantes racializades verem seus passaportes recusados no espaço europeu, como aconteceu com estudantes negros portugueses na Ucrânia. Por outro lado há vários palcos de conflito global que são ofuscados e retirados da midia oficial onde jovens são protagonistas de resistência aos poderes instituídos: como no Curdistão, onde o povo Curdo se organiza em federações como a Juventude Curda, o Movimento Estudantil Curdo, e as Comunas da Juventude, onde se organizam para ver a sua voz reconhecida e participar do auto-governo das comunidades; ou entre o povo Guaraní-Kaiowá no Brasil, onde jovens indígenas têm sua própria estrutura de auto-organização, a Aty Retomada Jovem. De certo que suas realidades, desafios e lutas se relacionam com as de jovens em todo mundo mesmo constituindo uma frente avançada do conflito global e crise. Além disso vimos novamente no nosso território os efeitos da crise climática, provocada pela especulação capitalista e resultando no aumento de fenómenos extremos como os grandes incêndios, secas e cheias, que a par com a má gestão do espaço urbano, florestal e a mineração em nome do lucro, se tornam destrutivas e fatais. Vimos ainda a repressão a estudantes secundaristas e das universidades do movimento "Fim ao Fóssil! Ocupa" que lutam pela causa ambiental através da ocupação de escolas, e a disponibilidade destes em enfrentar o Estado e interesses privados, o que nos convence do seu papel ativo e convicção no seu interesse-maior em ter um futuro e não uma hécatombe no lugar de um planeta, não obstante as contradições entre o sector radical e institucional nestas lutas. Como superamos o Estado a que isto chegou? Sendo este o conjunto das condições em que vivemos, urge que os jovens se organizem reivindicativamente, que participem de colectivos, movimentos sociais, associações de classe, sindicatos, sem uma definição política profunda mas que procurem unir várias pessoas de uma grande força social, como a Rede de Apoio Mútuo, que inicialmente fez frente aos patrões exigindo mais respeito aos trabalhadores, que denunciou diversas irregularidades praticadas por empresários: contratos fictícios, jornadas diárias de 12 horas de trabalho, trabalhos por turnos, sem adicional noturno, apenas um dia de folga (quando era possível), horários repartidos e nenhum direito de negociação. E ainda outras do meio estudantil que procuram dar uma resposta a seus problemas, nomeadamente os económicos, psicológicos, entre demais abordados. E é preciso que jovens procurem unir estes grupos na direcção de se criar uma frente independente comum e uma federação que aumente sua força. Para isso tem de ser iniciadores, perceber que se não partir deles dificilmente partirá de outro sector da sociedade, pois tem a maior energia e estão mais abertos ao novo, não viveram todos os benefícios de um trabalho estável bem pago e não alimentam a ilusão de comprar uma casa numa grande cidade e viver uma vida confortável com esta economia. Muitos não sabem o que terão de fazer para sobreviver daqui a pouco tempo ou hoje. Então que se juntem primeiro para discutir seus problemas com quem quiser-se a nós juntar, e segundo para em solidariedade combatermos por direitos e liberdade para o conjunto de toda a juventude e classe trabalhadora. Por outro lado, é tão relevante agora a sua organização política e cultural, pois uma vez instruídos sobre a origem de seus males, nas instituições de poder político, económico e demais estruturas nefastas que estas estendem à sociedade como o racismo e patriarcado, resta então a sua capacidade crítica de planear mais além do que o dia de amanhã e sobre uma variedade de questões. Os movimentos sociais tais como as associações de classe congregam pessoas com crenças não tão semelhantes entre si, muitas das quais não jovens ou nas margens sociais, e apesar de serem excelentes espaços para acção e para o debate e discussão de ideias, não são tão boas para o compromisso, disciplina e unidade necessários ao desenvolvimento de um sector que procure mudar radicalmente o seu futuro em todos os aspectos da vida. Até porque quando se confunde esta distinta tarefa e se procura que um movimento social tenha perfeita disciplina e compromisso ou adira a uma ideologia ou campo ideológico, alheio às contradições que existem no seio do povo, quase sempre terminamos com um grupelho pequeno muito iluminado que pouca efetividade terá na luta real e emancipação. Além disso muitos movimentos de classe apesar de terem potencial de juntar mais força social do que por exemplo, um colectivo de amizades ou afinidades, ou restringido a estudantes apenas mulheres ou trans, os movimentos classistas dificilmente se concentram em falar sobre temas mais específicos que são também problemas da juventude trabalhadora e estudante. Para o último caso, é urgente criar em cada organismo reivindicativo, sindicato, associação, assim que tenham um número considerável, subgrupos de jovens, de mulheres, de racializades e lgbtqia para abordar seus problemas particulares, e que estes grupos tendam a se federar com outros grupos do mesmo tema espalhados pelo território e outros movimentos, culminando numa frente de lutas que nos organize tanto em torno das questões sócio-económicas como sócio-culturais, sendo a juventude uma dessas questões particulares. Para o primeiro caso, o da organização política, devemos construir tendências radicais nos movimentos, e uma organização política específica revolucionária que desenvolva teoria política. Na prática isto é, unir os sectores revolucionários e autónomos da classe independente de sua filiação Ideológica de forma informal, dialogando, ou formal, em organizações de tendência, como é o caso da Resistência Estudantil (RELL), que agrega estudantes que atuam em diversos movimentos estudantis. E por outro lado construir a organização política que é o partido revolucionário, que nós identificamos com o anarquismo, que diferente do conjunto dos partidos eleitorais, reformistas e que querem manter o governo de elites através do Estado, tem o mais avançado programa para a total emancipação e fim da dominação entre a humanidade, e que poderá desenvolver a teoria necessária para a aplicação desse programa qual a juventude deve energicamente aderir como sua grande beneficiária. Assim sendo, convocamos quem tenha interesse a procurar saber mais sobre o anarquismo coletivista, e quem queira se envolver direta ou indiretamente no trabalho da nossa organização e luta política emancipatória em Portugal a se juntar ou criar núcleos locais dos movimentos e coletivos quais apoiamos como os já referidos, o Comité de Solidariedade Entre os Povos, o Vozes de Dentro, entre outros que considerem válidos e após isso nos contactar. - COPOAP (Colectivo Pró-Organização Anarquista em Portugal) "Vocês se levantaram novamente, então, não puderam enterrar-vos. Esse espírito destrutivo do Estado que vos anima não é, portanto, o produto efémero de uma exaltação juvenil, mas a expressão de uma necessidade vital e de uma verdadeira paixão." - Mikhail Bakunin, Algumas palavras aos jovens irmãos na Rússia
0 Comentários
|
arquivo
February 2023
categorias |